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O primeiro número deste projecto editorial saiu no passado mês de Outubro. Trata-se de uma revista internacional de fotografia editada por iniciativa da Associação Cultural Cityscopio e o Espaço F-FAUP, tendo como director o arquitecto Pedro Leão Neto, professor auxiliar na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), assistido por Tiago Casanova, estudante de arquitectura e fotógrafo.

No texto de abertura, como forma de “conquistar leitores”, é sugerida uma dupla leitura: “Um primeiro olhar”, que sugere um manuseamento rápido do livro-objecto antecipando uma “(re)observação” aprofundada dos seus conteúdos.

Invertendo a ordem de leitura proposta, é perceptível que o seu maior objectivo não será o de autonomizar a fotografia de arquitectura como disciplina. Aqui a fotografia e a imagem referem-se à arquitectura de forma instrumental, como suporte de investigação ou de construção de narrativas visuais sobre a cidade. Funcionam também como plataforma de entendimento através da qual se permite que outras áreas disciplinares possam contribuir com “novas perspectivas sobre a arquitectura, o espaço público e as suas vivências”. 

Essa vontade materializou-se na organização do workshop “Na Superfície” integrado no seminário Na superfície: imagens de arquitectura e espaço público em debate” em parceria com a FAUP, a FBAUP (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), a Ordem dos Arquitectos SRN, a Norte 41º e a EAUM (Escola de Arquitectura da Universidade do Minho). Os resultados desta iniciativa estão reunidos em Scopio Addendum, publicação anexa a esta edição, onde o conjunto de trabalhos apresentados traduz de forma convincente o cruzamento de discursos diversos – as Artes Visuais, a Arquitectura, a História e a Urbanística –, em torno de dois territórios específicos da cidade do Porto: Campanhã e Cedofeita.

O Nº1 de Scopio desenvolve-se também em torno da temática “aboveground” (“na superfície”). Este volume corresponde à primeira de três partes a publicar e incide sobre a Arquitectura. Encerrarão esta série duas outras edições sobre Cidade e Território. Architecture Aboveground é então o número 1/3 desta temática e junta nomes internacionais como Hélène Binet, Eszter Steierhoffer e Filip Dujardin. Este último mereceu o destaque da capa e o desenvolvimento crítico do seu trabalho com base nas séries Fictions e Belgian Sheds.

Scopio torna-se desta forma um importante “instrument to see”, que permite ver a arquitectura mas, sobretudo, ver e problematizar as imagens de arquitectura com que somos confrontados de forma massiva, resultado de uma mediatização da disciplina sem precedentes. Promove o debate sobre as potencialidades da representação/manipulação permitirem a fluidez do limite entre real e ficção que leva, por exemplo, Pedro Bandeira a ter de recorrer às aspas para se referir a “verdade” e “consequência” nas suas “Notas sobre arquitectura e imagem digital”. Este número aproxima-se, de facto, das possibilidades de troca e de confronto directo entre autores que o debate permite pela inclusão de modalidades como a entrevista (de Susana Ventura a Hélène Binet) ou a conversa (de Inês Moreira com Eszter Steierhoffer). 

No segmento Viewfinder serão publicados a cada edição os resultados de um concurso internacional a lançar a propósito do tema específico de cada uma. A revista, para além da divulgação e promoção de novos autores, permite desta forma a produção de conteúdos próprios, abrindo a oportunidade ao leitor de participar e se ver representado nas questões que propõe. A entrada vencedora nesta edição, de Alexandre Delmar e Luís Ribeiro da Silva, é esclarecedora no que respeita às afinidades possíveis entre a representação fotográfica e o modo de ver a realidade pela mão do arquitecto, pelo que as imagens se organizam em dípticos compostos por fotografias em paralelo com desenhos.

Num “primeiro olhar”, deixado aqui para o fim, o formato da publicação provoca estranheza pelo seu tamanho pequeno, equivalente a um livro de bolso, inesperado para uma publicação de fotografia, mais frequente de facto em modo macroScopio.  A opção da apresentação integral dos textos em inglês já não será tão estranha, tratando-se de uma revista internacional, mas parece pouco claro qual o critério do recurso ao texto bilingue-integral em “Addendum” e apenas nos textos introdutórios no volume principal. Apesar da vontade de “ajudar a abrir a Universidade do Porto e a sua Faculdade de Arquitectura para o mundo exterior”, será ainda importante fazer o exercício contrário de abrir este mundo a esta Faculdade. Para os leitores nacionais seria importante ter a possibilidade de ler o formato original dos autores portugueses e evitar deste modo o efeito “lost in translation”.

Acerca do formato, a justificação elaborada na apresentação refere uma afinidade com formatos alternativos como a fanzine, ainda que não seja habitual neste tipo de publicações encontrar conteúdos com a qualidade científica, nem com o cuidado no tratamento gráfico e na reprodução das imagens que este projecto editorial oferece. De um ponto de vista alternativo, poderemos enquadrar esta opção no modo como o consumo de imagens (em movimento) se generalizam em suportes como o Youtube, onde a dimensão e, muitas vezes, a sua definição são sacrificadas em nome de uma rápida e eficaz difusão do seu conteúdo, ou com a comodidade que um equipamento portátil e compacto como o iPod Nano permite.

A colecção das próximas edições que se perspectivam poderá no entanto alterar a relação de escala que este primeiro número, isolado, estabelece com quem o manipula. Pela sua actualidade e qualidade é importante que o que em Scopio se estranha se ultrapasse pela continuidade desejável do projecto para que se entranhe nos hábitos dos leitores e na cena internacional. |


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